A Independência do Brasil, proclamada em 1822, é frequentemente retratada como um movimento liderado por figuras das elites coloniais, mas a história é muito mais complexa, especialmente quando consideramos a participação e influência dos povos escravizados e dos povos originários. Essas comunidades desempenharam papéis fundamentais e sofreram profundas consequências durante e após esse processo.
Os povos escravizados, essenciais para a economia colonial, viram na Independência uma oportunidade de luta por liberdade. Embora as elites coloniais tenham buscado manter a escravidão como base econômica, os escravizados e libertos encontraram maneiras de se envolver no movimento independentista, muitas vezes na esperança de conquistar direitos e a alforria. No entanto, a liberdade não veio imediatamente, e a escravidão continuou a marcar o Brasil por muitas décadas. Mesmo assim, a presença e a resistência dessas comunidades negras durante o processo foram cruciais para moldar o curso da história.
Por outro lado, os povos originários, que já enfrentavam séculos de violência, expropriação de terras e destruição cultural, viram na Independência mais uma fase de opressão. Embora fossem os habitantes originais do território, tiveram pouca ou nenhuma participação nas decisões que levaram à Independência. Em vez disso, continuaram a ser marginalizados, forçados a lutar em conflitos que não eram seus e a ceder ainda mais terras à medida que o novo governo brasileiro consolidava seu poder. A resistência indígena, no entanto, não foi extinta; ela se manifestou em lutas contínuas pela preservação de seus territórios, culturas e modos de vida.
A Independência, portanto, não representou uma ruptura radical com o passado colonial para esses grupos. Pelo contrário, tanto os povos escravizados quanto os povos originários continuaram a enfrentar desafios semelhantes sob a nova nação. A promessa de liberdade e inclusão foi traída, com a manutenção de estruturas de poder que perpetuavam a exploração e a exclusão.
Reconhecer a participação e a resistência dessas comunidades na história da Independência do Brasil é crucial para compreender a complexidade do processo e os legados que ele deixou. Ao trazer essas vozes para o primeiro plano, podemos reconstruir uma narrativa mais inclusiva e crítica da história brasileira.
Por Vanda Guimarães